Ser estrangeiro é se deparar o tempo todo com a alteridade, seja nos costumes, na forma de se expressar, na comida ou no jeito em que as pessoas socializam. É passar por um processo de se sentir um completo estranho, por ser um mundo novo, para uma adaptação que faz com que o mundo deixe de ser tão estranho assim, que é quando tudo começa a se tornar familiar.
Eu fui estrangeira, morando em outros países, duas vezes. A primeira, na minha adolescência, na Nova Zelândia, e a segunda, recentemente, em Uganda. Por mais que as experiências tenham sido completamente diferentes, o processo que escrevi no começo foi exatamente o mesmo, do estranho ao familiar.
Somado a isso, há o fato de estar longe de todos aqueles que me traziam conforto e segurança, de ter pessoas de confiança para compartilhar.
Poderia dividir minhas experiências em três fases: a primeira, de estranhamento e descoberta; a segunda, de adaptação (na minha opinião, a melhor); e a terceira, de saudade. Viver cada uma delas, no entanto, fez com que algo em mim mudasse, já que, ao sair da zona de conforto, me deparei com alguns desafios que antes não me eram necessários, seja por experimentar uma comida nova, dialogar com pessoas desconhecidas ou dormir em lugares que sequer sabia que existiam.
Neste sentido, acredito que morar fora é um processo tão externo, quanto interno, por este contexto ser pautado o tempo inteiro por uma abertura para o mundo, já que, ao mesmo tempo em que o ambiente físico é novo, há uma novidade também de si mesmo, de autoconhecimento, por descobrir coisas em si que anteriormente estavam intocadas.
Assim, me deparei a todo momento problematizando o que já estava dado, aceitando que o diferente não necessariamente é pior ou melhor, mas simplesmente diferente, e cabia a mim, ao fim e ao cabo, me adaptar a isso. E é isso que torna esta vivência viciante, já que a cada experiência vivida, eu tive que perder meu chão para somar, para acrescentar e transformar a mim mesma.
Julia Palmieri tem 24 anos, é formada em Relações Internacionais pela Faculdade Curitiba, graduanda em Sociologia na Universidade Federal do Paraná e coordenadora de relações internacionais na Intern Brazil.